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sábado, 25 de dezembro de 2010

Da tristeza

“Sou dos que menos sentem essa disposição de espírito; não a aprecio, embora de modo geral, e preconceituosamente os homens a respeitem e estimem. Com ela enfeitam a sabedoria, a virtude, a consciência, mas o adorno é pobre e feio.” Montaigne (Da tristeza)

Ouso escrever com o mesmo título de Montaigne um escrito sobre a tristeza. O ensaio do Montaigne é universal, atravessou os séculos. Mas a vontade de falar da tristeza veio, talvez para abatê-la de vez de mim. Portanto, sem a maestria de um Montaigne, aí vai minhas reflexões sobre a tristeza.
Às vezes cultivamos a tristeza, aliás, quase sempre. Demoramos a perceber que quanto mais nos deixamos levar por ela, mas ela nos domina; circula com suas toxinas no nosso sistema circulatório. É uma figura corporal. Se expressa no rosto, na postura, na voz, em toda a face tensa. Faz cair os ombros, nos torna deselegantes. Perdemos o brilho dos olhos, a curiosidade pela vida, nos desinteressamos pelo mundo. Ela é maléfica para quem tem e para os que vivem ao redor da pessoa que irradia a tristeza. Nada mais gostoso de se ver que um sorriso aberto. Faz bem a todos que estão em volta, faz bem a quem dá e a todos que o recebem. A tristeza nos faz indolentes, passivos, nos vitimamos. Amaldiçou-se o mundo, as pessoas, as circunstâncias. O triste é um peso. Ele não constrói, destrói. Não experimenta a vivacidade, não faz o mundo girar. A tristeza é refúgio dos fracos. Todos nós temos nossas mazelas, nossas dores. Mas a dor verdadeira é silenciosa, é sagrada. Deve ser respeitada e não exposta ao mundo. Sou contra a tristeza patológica que se alonga por meses a fio. Uma tristeza de alguns dias é razoável. Mas a tristeza que se alonga indefinidamente é ruim para quem sente e para quem está envolta. Ela é semelhante à maldade (isso é idéia do Montaigne), pois é nociva e insensata. A vida já é dura: quem chora, lamenta, não ajuda muito. Há um mundo por fazer. Há crianças na rua, há gente que tem fome, há violência, há violação dos direitos sociais. E quem cultiva narcisicamente a tristeza não ajuda. Há uma conclusão que cheguei: que existe uma decisão na vida, a mais importante e central. É preciso decidir pela vida ou pela morte. Quem decide morrer é um egoísta, mas que vá de vez. Agora, para os que ficam: sorriso aberto, olhos atentos, alma curiosa. Não é uma apologia aos fortes, ao super-homem de Nietzssche. Mas um apelo pela vida. Deve se acolher a todos que sofrem, mas deve principalmente fazer vê-los o tempo que perdem: o tempo de ser feliz.

Um comentário:

  1. Definiu muito bem a tristeza no meu ponto de vista. Mas do ponto vista otimista a tristeza não a prolongada porque é patológica. Mas a tristeza em certas circunstâncias faz nos parar, refletir a vida e as nossas condutas. Neste sentido ela é benéfica.

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